A rectificação atempada de um erro cometido na formação inicial valeu ao Benfica uma saborosa vitória por 2-0 sobre o Sporting e a ultrapassagem de mais uma barreira em direcção ao título de campeão nacional, que fica agora à distância de sete pontos (duas vitórias e um empate) em quatro jornadas. O sucesso de ontem escreveu-se após a entrada de Aimar, em substituição do inexistente Éder Luís; fruto do sacrifício de Cardozo, que fez o golo inaugural ao pé coxinho depois de se ter magoado e ficado em campo; mas também da baixa de rendimento da equipa do Sporting, que diminuiu a agressividade defensiva na saída de jogo encarnada e passou a dar espaço entre as linhas defensivas. Mesmo depois de uma primeira parte em que teve muitas dificuldades, acabou o Benfica por justificar a vitória num jogo estranho onde os dois guarda-redes, entre eles, fizeram apenas uma defesa... e de uma bola que até ia para fora.
Já se vê pelo que ficou escrito antes que não foi um jogo pródigo em ocasiões de golo. O Benfica começou mal, acusando em demasia a ausência de Saviola e a presença de Éder Luís, que não mostrou a qualidade de desmarcação do argentino, dessa forma emperrando a construção de jogo da equipa, que passava a depender muito do jogo mais directo. Para isso contribuiu a estratégia do Sporting, que montou a defesa da baliza de Rui Patrício assente em duas fases bem delineadas: primeiro, pressão intensa sobre a saída de bola por parte de Liedson, Yannick e Moutinho; depois, duas linhas muito juntas em protecção da área, cedendo alguma iniciativa ao Benfica, mas bloqueando-o em todos os corredores na aproximação às zonas mais perigosas. Isto valeu ao Sporting algumas recuperações de bola ainda no meio campo encarnado e tentativas de contra-ataque, mas sempre com desatino na finalização.
A verdade é que o 4x1x3x2 do Benfica não mostrava serviço nem com Di María à direita, por troca com Ramires, nem quando os dois voltaram às posições naturais, aos 10 minutos de jogo. Era, em contrapartida, o 4x2x3x1 do Sporting que ditava o sentido do jogo, muito graças a uma boa primeira parte de Veloso e Pedro Mendes na definição dos caminhos a seguir pela equipa no momento de recuperação da bola. Foram os leões a fazer os primeiros três remates e, antes de um assomo emocional do Benfica, mesmo a finalizar a primeira parte, lideravam esta tabela por um contundente 7-3.
Ao intervalo, porém, não só Jesus rectificou, trocando Éder Luís por Aimar, como o Sporting baixou a intensidade do seu jogo defensivo. A diferença foi abissal, embora ninguém possa garantir o que sucederia sem a coordenação dos dois factores. Aimar esteve muito mais em jogo do que Éder Luís, mas a verdade é que o espaço entre as linhas defensivas do Sporting também aumentou de forma substancial. E isso viu-se logo aos 46', quando o argentino baixou pela primeira vez, fugindo dos centrais leoninos, e encontrou espaço para lançar Ramires na esquerda, para um cruzamento que Carriço depois desfez "in extremis". Nos primeiros 20 minutos da segunda parte, o Sporting só reagia: não rematou, não ganhou um único canto, não se aproximou sequer da baliza de Quim. Valia aos leões, ainda assim, o acerto de Carriço e Tonel (sobretudo o primeiro) na cobertura frontal à baliza, levando a que o Benfica só ameaçasse de canto e em remates de meia distância.
Até que, na sequência da tal única defesa feita por um dos guarda-redes no jogo (Quim, a remate de longe de Abel, aos 66'), o Benfica marcou; fê-lo Cardozo de pé esquerdo e num momento em que já estava fisicamente inferiorizado e pronto para sair de campo. Aliás, deu o lugar a Kardec um minuto depois do desbloquear do marcador. Um minuto foi também de quanto Carvalhal precisou para mudar a equipa: abdicou de Abel, que já tinha um cartão amarelo, recuou João Pereira, passou Yannick para a direita e Veloso para a esquerda do meio-campo e chamou Saleiro ao relvado para transformar o 4x2x3x1 no 4x1x3x2 que a equipa mais vezes tem utilizado. A verdade é que o Sporting não melhorou: Pedro Mendes parecia em inferioridade física, e Veloso reagiu mal à desvantagem, baixando de rendimento e perdendo-se em picardias desnecessárias. E foi já com Matías Fernández na linha lateral, à espera de substituir Grimi (Veloso passou então para defesa-esquerdo), que o Benfica chegou aos 2-0 num lance em que aproveitou bem a subida do bloco leonino e o espaço que a defesa passou a deixar nas costas: Ramires pensou mais rápido que Carriço, e Aimar teve toda a calma do mundo para marcar.
Com 2-0 e 12 minutos para jogar, a tranquilidade levou o Benfica e os seus adeptos a um gigantesco suspiro de alívio. Jesus ainda trocou Martins por Airton, assumindo o duplo pivô-defensivo a meio-campo, e procurou temperar o entusiasmo crescente nas bancadas, onde os adeptos se expressavam em coros como "Olé" e "Só mais um". Mas os três pontos, esses, estavam garantidos. E o sonho do título mais perto.
Benfica 2-0 Sporting
Estádio da Luz
relvado Bom
59 317 espectadores
Árbitro João Ferreira (AF Setúbal)
Assistentes Nuno Roque e Luís Ramos
4º árbitro Hugo Miguel
BENFICA
Treinador Jorge Jesus
1 Quim GR 6
5 Rúben Amorim LD 7
4 Luisão DC 6
23 David Luiz DC 7
18 Fábio Coentrão LE 6
6 Javi García MD 5
8 Ramires AD 6
17 Carlos Martins MO a 86' 6
20 Di María AE 6
32 Éder Luís AV a INT 3
7 Cardozo AV a 69' 7
1 Moreira GR
22 Luís Filipe LD
27 Sidnei DC
2 Airton MD d 86' -
10 Aimar MO d INT 7
19 Weldon AV
31 Alan Kardec AV d 69' 4
Golos
[1-0] 68' Cardozo [2-0] 78' Aimar
amarelos 47' Luisão, 56' Fábio Coentrão, 76' Di María
vermelhos Nada a assinalar
SPORTING
Carlos Carvalhal Treinador
1 Rui Patrício GR 5
78 Abel LD a 69' 4
13 Tonel DC 6
3 Carriço DC 7
18 Grimi LE a 79' 5
2 Pedro Mendes MD 6
24 Miguel Veloso MD 6
21 João Pereira AD 5
28 João Moutinho MO 4
20 Yannick Djaló AE 4
31 Liedson AV 5
16 Tiago GR
4 Polga DC
6 Adrien MD
25 Pereirinha AD
14 Matías Fernández MO d 79' 2
9 Saleiro AV d 69' 3
23 Postiga AV
amarelos 41' Rui Patrício, 45+1' Abel, 88' Miguel Veloso
vermelhos Nada a assinalar
Fonte: OJOGO, 14 de Abril
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