Assobios à entrada no relvado e insultos à saída do Camp Nou. Por mais histórias que esta meia-final tenha para contar, nenhuma é tão aliciante como a de José Mourinho: foi ele que garantiu ontem a final ao Inter. Ponto. Tal como na semana passada, os italianos - que jogaram sem nenhum italiano - conseguiram anular com relativa facilidade esta máquina de futebol chamada Barcelona. E houve de tudo; houve uma expulsão de Thiago Motta para aumentar o dramatismo e significado de mais um feito de Mourinho; houve sofrimento e emoção; e houve também uma enorme corrida do treinador português pelo relvado de Camp Nou já depois do apito final.
Para além do ambiente adverso que se arrastou durante todo o dia de ontem - ver peça em cima -, o Inter teve ainda de lidar com vários contratempos. Um deles acabaria por retirar Pandev do jogo durante o aquecimento - o macedónio lesionou-se. Sem grandes opções, Mourinho escolheu Chivu para se limitar a fechar o lado esquerdo das habituais investidas de Daniel Alves. O Barcelona, esse, manteve-se fiel à paixão pelo jogo e a um amor pela bola que parece eternizar-se no tempo; o Inter respondeu com a mesma receita de Milão: linhas sempre muito juntas, uma paciência invulgar para andar a correr atrás da bola sem que os seus jogadores se disposicionem e um futebol directo na procura da capacidade física de Milito. Foi assim durante 28 minutos, o tempo em que Thiago Motta esteve em campo. Depois da expulsão do brasileiro - justa, diga-se -, mudou pouco. O Inter deixou de ter Milito na frente porque Mourinho foi obrigado a arrastá-lo para a direita - encontrou pela frente o irmão durante alguns minutos, ontem adaptado a defesa-esquerdo no Barcelona antes de ser substituído ao intervalo -, abdicou completamente do ataque e limitou-se a defender da mesma forma que tinha feito quando estava com 11. E fê-lo com aquela obsessão táctica que só Mourinho parece conseguir incutir nos seus jogadores. Dito de outra forma, o Barcelona teve a bola durante três quartos do jogo, mas foram raras as oportunidades de que dispôs para fazer golo; o carrossel dos espanhóis teimou em dar voltas, mas raramente conseguiu furar a muralha defensiva do Inter. O golo de Piqué, que já jogava a ponta-de-lança na fase do desespero, foi uma das poucas excepções. Em contrapartida, o Inter nunca incomodou Valdés, nem mesmo antes da expulsão de Thiago Motta - os italianos fizeram apenas um remate em todo o jogo, para fora, e na sequência de um livre apontado por Chivu perto do meio-campo.
Para atestar a perfeição do jogo defensivo do Inter, basta dizer que aqui chegados nesta crónica ainda não se falou de Messi. É que, pela segunda vez consecutiva, Mourinho anulou aquele que para muitos é considerado o melhor jogador do mundo. Aliás, o avançado argentino nunca conseguiu marcar um golo a uma equipa orientada pelo treinador português, e já lá vão seis jogos.
Nesta caminhada até ao Santiago Bernabéu, Mourinho também tem tido um percurso de reencontros que tornam especial esta terceira final europeia - a primeira sem ser com o FC Porto; reencontrou o Chelsea, voltou a Barcelona e agora vai defrontar Van Gaal, o treinador que lhe pediu para ficar na Catalunha depois de Bobby Robson ter partido. Dia 22 de Maio há mais.
Fonte: OJOGO, 29 de Abril
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